ISTO É DE DEUS?

Afinal de contas, quem está com a razão? 
Desafiado a manifestar-se sobre esta discussão, o Pr. Antonio Jose Cantarelli Pinto escreveu para o “+NOTÍCIAS”. Leia: 

 Vamos começar analisando a obra do Espírito Santo. De acordo com os textos que tratam da obra do Espírito Santo é unânime os teólogos julgarem que o Espírito Santo completa a obra de Jesus Cristo. O termo "completar" não significa que o que Cristo fez não foi o suficiente. Sua morte na cruz foi única e ali mesmo se completou. Agora quando se diz "completar" logo se pergunta o que? Baseado no livro de Atos e segundo a teologia  podemos afirmar duas coisas: 1) A obra do Espírito é uma ação de mudança que ocorre no caráter da pessoa para transformá-la num nova pessoa ou numa nova criatura. Isso começa a partir de uma decisão consciente do sujeito por Cristo. 2) O Espírito impulsiona o crente a uma missão: levar o evangelho aos demais que não conhecem a Jesus para fazerem a mesma decisão e assim constituírem a Igreja de Jesus.

Ambas às coisas: formação do caráter (resultado prático da Redenção) e a  missão de fazer discípulos os demais passam pela experiência. Quando  o assunto é experiência logo estamos falando de sensação, de contato, de sentimento. Ninguém diz ou afirma uma determinada experiência sem ter vivido (sentimento). Vou ousar e dizer de acordo com esse raciocínio que, o Espírito Santo é o que nos faz experimentar os conceitos da teologia. O antropólogo, o bacharel em direito, o biólogo, o geólogo, o historiador podem para enriquecer seus dotes estudar a Bíblia, terem conhecimento vasto da cultura judaica, mas, fica por isso mesmo. O cientista da religião faz isso. Mas a diferença entre o cientista da religião e um teólogo crente é a experiência - ou seja, a vivência desses conceitos, pra isso é preciso FÉ . Fé não é um conceito, ou uma ideia, a fé é produto de uma revelação que o homem experimenta não no seu intelecto, mas na sua alma (experiência). Do ponto de vista da razão humana - fé é absolutamente paradoxal - Hebreus 11.1.

Eis o impasse que cabe ao teólogo desvendar. Tudo o que o homem vivência (emoção) passa por estruturais neurais. Isso quer dizer que a relação entre emoção e cérebro, córtex cerebral e o sistema límbico é absolutamente  fato. Os psicólogos fisiologistas fizeram experiências com ratos para provocar-lhes tensões e prazer por meio de estímulos cerebrais (Robert Heath, Routemberg, Olds & Forbes 1963, 1980 e 1981). Não é ao acaso que a "musicoterapia" tem se solidificado baseado em pesquisas do quanto essas atuam no cérebro - (Alucinações Musicais - Oliver Sackes). Então falar de experiência sem levar em conta a relação mente-corpo é negligenciar a estrutura psicodinâmica do sujeito. Mas, e aí. O que é espiritual? Emocional? O que é ação do diabo ou não?

1) Toda a experiência é absolutamente subjetiva. Isso quer dizer que cada um recebe uma informação, decodifica, e reage (comportamento) de acordo com a estrutura cerebral de cada um. A experiência é unânime, mas a qualidade dela diverge. 

2) A emoção e o espiritual são dinâmicas que acontecem numa única instância que se chama  "alma". É tênue, próximo uma das outras. Eu posso ouvir uma música e não me dizer nada, outro ouve a mesma música e chora, por exemplo.

3) Toda a experiência uma vez que é subjetiva, vai depender das circunstâncias em que o sujeito esteja vivendo. O cérebro decodifica essas circunstâncias. As pessoas que passam por um estresas emocional como luto, perda, são mais suscetíveis aos estímulos que vão de encontro a essa demanda. 

4) Levar uma pessoa entrar em processo de transe não é possível. Mas, dependendo do que a pessoa vive naquele momento é possível que fique eufórica, tensa, alegre ou triste dependendo do estímulo, fique em estado de "êxtase" mas perder a consciência - não consta na literatura acadêmica. E a hipnose, esta não tem respaldo científico.

5) Manifestações espirituais, emocionais e demoníacas. Não podemos falar de espiritual separado do emocional, isso já vimos; os dois movimentos: emocional e espiritual estão embricados, relacionados. Não há como discernir o que é espiritual ou emocional. Para a psicologia é emocional, pois, não é de competência da psicologia e nem da psiquiatria a natureza espiritual do fenômeno, mas para o teólogo é o emocional e o espiritual. Agora, o resultado prático dessas manifestação é o "termômetro" que vai quantificar o que de fato aconteceu; o resultado é significativo. Exemplo: uma pessoa que ora em línguas, chora, pula, canta, precisa transpor a efusão do Espírito de Atos 2 para ingressar nos capítulos seguintes que são os resultados da ação "pentecostal".  O contrário toda aquela sensação que comumente os pentecostais chamam de "batismo no Espírito" ficou tão somente no sistema límbico. O diabo atua? Sim! Ele encontra falhas nessa dinâmica e aí  então age. Ele age no emocional, no espiritual, sim! Mas como sabê-lo? De novo no resultado prático da ação fenomenológica que ocorreu.  O que tem que ser analisado é a transformação do sujeito tal como disse  Paulo: Não é mais eu que vivo, mas sim Cristo vivendo em mim". Avaliar um fenômeno isolado de um contexto psicodinâmico é contraproducente, é insano. A experiência espiritual é subjetiva. A obra do Espírito na vida de cada crente é singular, não obedece um padrão. Quando a glória de Deus encheu o templo os sacerdotes não puderam ficar de pé (II Reis 8.11).  Daniel também caiu ante a visão das setenta semanas - (Daniel 10. 9). No pentecostes ninguém ficou patético, todos ficaram eufóricos de tal modo que, os rumores dos expectadores era que aqueles homens estavam bêbados, ou seja, ouve algo atípico, o que levou Pedro a justificar usando o texto de Joel. Mas, não podemos é claro, usar esses textos e em cima dele criarmos uma doutrina - ou "doutrina do cai". Mas,  não posso dizer  que a manifestação do Espírito é patética e sim dinâmica; agora como isso vai ocorrer é absolutamente subjetivo. 

Os dons espirituais. Negar os dons espirituais e ou dizer que algumas manifestações desses dons são diabólicas é desconhecer a Bíblia. Os dons são as habilidades de Deus para realização de sua obra na face da terra. São essas habilidades que caracterizam que a obra de Deus é de natureza absolutamente espiritual. Não são as nossas capacidades que vão fazê-la, estas podem ajudar, mas podem também atrapalhar e empatar. Quanto a manifestação daquilo que Deus quer para sua igreja e para o homem no que diz respeito aos dons, os pais da Igreja entenderam que Deus as revelou nos 66 livros canônicos. Portanto, essa é  a única maneira segura de Deus falar conosco. Agora, o "porta-voz" dos textos sagrados no caso o pastor ou algum outro agente pastoral deve buscar aprimoramento, para não cair e nem induzir ninguém ao erro. Os dons do Espírito - I Cor. 12 - mostram que a igreja não é  uma empresa, mas uma comunidade de redimidos. Isso quer dizer que, não são as habilidades humanas ou discursos humanos que vão dinamizá-las, mas as habilidades do Espírito. Estes dons nos ensinam que somos um Corpo - Vivo, porém... O que aconteceu na rua Azuza foi justamente isso - a igreja estava inerte, intelectual, mas sem vida, um corpo morto. O Espírito dinamiza a igreja quando esta tende a se afastar da sua verdadeira essência, de ser luz e sal da terra. Os conservadores repugnaram o movimento chamando-o de herético. Os tempos se passaram... O berço do protestantismo, Holanda, Alemanha, os Países Baixos de um modo geral, hoje a maioria se denomina ateu, pois, se distanciaram da experiência da alma, da obra do Espírito. Mas Deus sempre  levanta homens, por exemplo John Wesley;  Ana Paula Valadão, Enéas Tonini para nos acordar da inércia espiritual. Isso às vezes choca pois, confronta as mesmices e liturgias obsoletas. Existem os do "contra". Para entender esse processo de declínio e apogeu é bom ler e reler o livro de Esdras, lá encontramos os que choram de alegria pelo avivamento, outros que choram de tristeza. Quem chorou? Os velhos anciãos que viram a glória da primeira casa... Outros aconselhavam com pressões psicológicas de intimidação, enfim, nada diferente do que vemos hoje. A manifestação das línguas, dom que criou tanta polêmica entre conservadores e carismáticos, hoje já não é mais assunto no mundo acadêmico, pois, este faz parte do que nos entendemos como "práticas acidentais" e não "essenciais". A glossolalia não foi negada pelos pais da igreja, nem por Tomás de Aquino e nem por Agostinho, nem por John Wesley e não há  como fazê-lo, pois, está na Bíblia, mas é diferente da xenoglossia - fenômeno metapiscológico no qual a pessoa fala em outro idioma que desconhecia. Fenômeno que já foi investigado por ocorrer em sessões espíritas. No caso da glossolalia é um dom de Deus que deve ser analisado à luz da revelação bíblica e não à luz da razão. É importante saber que a própria filosofia - Descartes, Kant, etc discorrem sobre o conhecimento. O conhecimento verdadeiro não aquele que a razão é capaz de comprovar. Os reformadores, dentre esses, Lutero discordou de Tomás de Aquino no que diz respeito as "cinco vias" da prova da existência de Deus. Deus não precisa ser provado. Ele É. Do mesmo modo os dons do Espírito Santo não são susceptíveis a investigação racional, pois são matéria de fé. Passam pelo emocional, pelo cortex cerebral com certeza. Mas é isso que demonstra a riqueza da obra prima que é o homem. 

Fontes: 'Introdução à Psicologia" de Linda Davidoff; "Alucinações Musicais" de Oliver Sacks; "Da música e seus Recursos" de Maria de Lourdes Sekeff, "Viver a Graça de Deus - Teologia Metodista" de Walter Klaiber. "Filosofia e Fé" - Collin.  
 (Antonio José Cantarelli Pinto - CRP 06/50013-9 - Atende pastores e família de pastores na Convenção Batista Nacional toda sexta-feira -             (11) 84211740      )

Nenhum comentário:

Postar um comentário